Cannabis, ganza marijuana...

Curiosa substância, esta…Consumida há milhares de anos, a droga ilegal mais utilizada nos dias que correm, acusada de ser a porta de entrada para a toxicodependência, portadora de simbologia religiosa, ainda imagem de rebeldia, a Cannabis atrai sobre si ódios e amores. Que eu saiba, é a única planta que origina marchas globais em seu favor.

Não vou enveredar por uma explicação aprofundada acerca dos efeitos e riscos da cannabis. Já toda a gente sabe – acho eu – que a cannabis parece ter propriedades positivas para saúde e também, quando consumida em excesso, graves consequências. Que acalma, relaxa, mas também consegue pôr um intelectual a rir dos “Malucos do riso”. Que pode, ao que parece, induzir desmotivação, o chamado “síndrome amotivacional” ( se bem que se possam apontar outros factores responsáveis por este efeito perverso). Que pode causar dependência psicológica, mas que a dependência física nunca foi provada. Que qualquer toxicodependente já consumiu cannabis, mas que o inverso não é verdade – há quem argumente, por exemplo, que todos os toxicodependentes beberam leite, mas que nem toda a gente que bebeu leite se tornou toxicodependente – um argumento a que sempre achei piada... Que é um facto que a sua potência tem vindo a aumentar nos últimos anos (embora, na minha opinião, e sublinho opinião, não se possam assumir relações de causa-efeito devido a este aumento).
De todas as drogas ilegais, a cannabis é aquela que maiores dúvidas origina. Reparem que escrevi sempre “pode” ou “parece” quando me referi aos seus efeitos. Ainda não há certezas absolutas em relação a muitos destes e outras variáveis parecem concorrer com a substância para os mesmos. Afinal, a cannabis parece ser uma das substâncias que mais dependem das variáveis de personalidade, contexto e biológicas para os seus efeitos. Não tem, por exemplo, o potencial de habituação da heroína, mas pode causá-la. Por outro lado, numa sociedade que sempre utilizou drogas, para os mais diversos fins, não deixaria de ser paradoxal para um visitante de outro planeta descobrir que a mesma sociedade que aceita o uso de álcool e tabaco, proíbe o de cannabis…Estamos na altura das queimas das fitas e digo-vos que se os estudantes universitários optassem pela ganza em detrimento do álcool, haveria certamente menos problemas, menos acidentes e menos danos físicos…
Sou a favor da Marcha da Cannabis, principalmente porque coloca na ordem do dia, talvez de forma secundária, a necessidade de investigação séria e bem feita metodologicamente acerca duma substância que gera tantas paixões. Nesta como noutras situações, o calor do debate do pró e do contra por vezes encobre as verdades científicas. Mas, de qualquer das formas, só no contexto de um debate esclarecido é possível desmascarar tantos e tantos moralistas que deturpam o conhecimento actual. Ou os libertários pouco informados (pelo que me apercebi, parece haver menos destes).
A minha posição em relação ao estatuto legal da cannabis é simples e baseia-se em experiências já testadas no estrangeiro: Agradar-me-ia ver um sistema semelhante ao da Holanda (ou, em segundo lugar, da Espanha) em Portugal. Isto por razões pragmáticas e que já desenvolvi noutro sítio, após ter lá ido ver como as coisas são feitas: comparativamente, a Holanda teve um aumento de consumidores de cannabis menor do que os países que seguem uma linha mais proibicionista. Isto quererá dizer alguma coisa…
Paralelamente, as razões de liberdade individual e auto-determinação são apelativas para mim. Os adultos deverão ser livres de escolherem consumir uma substância se assim o quererem e se isso não trouxer problemas para a sociedade. No estado actual de coisas, consomem e trazem problemas: É necessário haver um traficante para haver um consumidor. O dinheiro obtido de esta transacção é utilizado de formas muito mais negativas que os efeitos nefastos da cannabis. Controlando a sua venda – pelo estado, porque não – não só se retiraria uma fatia importante dos lucros dos negócios das drogas como se poderia utilizar as verbas obtidas na própria luta contra a droga, na investigação científica, enfim, em coisas úteis.
Porque não experimentar? Já se percebeu que a outra opção não funcionou…

Publicada porVictor Silva à(s) 22:08 49 comentários  

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