Moisés se calhar andava a «surrealizar por aí»

Um professor de psicologia cognitiva de Israel afirmou (eu diria mais especulou) que Moisés estaria sob o efeito de substâncias alucinogéneas quando apresentou os 10 mandamentos ao descer do monte Sinai, quando viu a sarça ardente, etc. Não deixa de ser uma especulação engraçada...

Um lugar comum de qualquer cronista quando lhe falta assunto é escrever sobre a falta de assunto. Ora este cronista, consegue fugir a este «drama». Basta-lhe ir ver o que se passa na secção «Acredite se quiser» do PortugalDiário. Sempre é mais arejado, eventualmente engraçado e até pode ser ponto de partida para reflexões mais ou menos profundas. Foi lá que descobri que Moisés se calhar andava a «surrealizar por aí» e de caminho ajudou à criação de uma religião.
Moisés a «tripar» com alucinogéneos acaba por ser uma imagem, mesmo para um católico (renitente, é certo) como eu, muitíssimo engraçada. Bastou-me deixar a imaginação fluir e de repente estavam os 12 apóstolos a partilhar um charro. Afinal, a cannabis já era conhecida e utilizada naquela altura...
Não é minha intenção ofender quem quer que seja, mas é um facto que quando se fala de religião (pelo menos da dominante no ocidente) de forma, digamos, menos ortodoxa, é quase certo que cai o Carmo e a Trindade... Aliás, parece quase uma evidência científica que se pode brincar com qualquer coisa, menos com a Religião. Que o diga o Herman José a sua rábula da última ceia (que, já agora, foi escrita pelo pessoal das Produções Fictícias).
A religião, as crenças religiosas, parecem ser assunto tabu. Parece que não se pode debater a realidade histórica de verdades de fé dum ponto de vista científico. Há quem diga que isso deve ficar no âmbito da fé, outros vão argumentando que mesmo as questões de fé podem e devem ser analisadas (como qualquer «artefacto» ou «produção» humana) dum ponto de vista científico. Que o diga, por exemplo, Richard Dawkins, o ateu mor da actualidade, por via do seu livro «A Desilusão de Deus».
Em países cristãos, esta possibilidade de uso de alucinogénios por parte de Moisés para ver sarças ardentes, falar com Deus, receber instruções deste, até mesmo separar as aguas de um rio, são um sacrilégio, uma ofensa «pessoal» a quem acredita na «verdade» escrita na Bíblia. Vai, afinal de contas, contra as crenças e a fé de quem se sente ofendido. Mas reflictamos: Buda também chegou a conclusões que a nós, filhos da tradição judaico-cristã, nos parecem estapafúrdias. Os Hindus têm até um deus que tem cabeça de elefante. Se até pode ser legitimo, pensando racionalmente, que alguém andava drogado para ver cabeças de elefante ou chegar à conclusão que vivemos várias vidas (e que se calhar ainda acabamos como uma barata por nos termos portado mal antes), porque não colocar a hipótese de que Moisés estava a «tripar» e deu-lhe para falar com Deus e ver sarças ardentes?
Isso nem pensar! Claro! É que o nosso deus, a nossa religião é a certa e os outros estão todos errados. Mas, certamente, se eu tivesse nascido numa família Hindu, acreditava em Shiva e nos seus vários braços. Isto para dizer que a religião é uma coisa aprendida.
Naturalmente acho que devemos respeitar as crenças religiosas. Mas também acho que isso não é incompatível com um escrutínio científico de certas afirmações, com colocação de hipóteses que até podem ter alguma razão de ser. Nomeadamente que Moisés talvez tomasse substâncias alucinogénicas. Isso pode ajudar-nos a entender melhor esse fenómeno humano universal que é a religião. Repare-se que ainda hoje, muitas pessoas ao tomarem drogas psicadélicas têm experiências de âmbito espiritual como falar com deus. Outras pessoas, mesmo sem drogas, falam com deus e ele responde. Geralmente são encaminhadas para o psiquiatra... Que seria feito das religiões se houvesse psiquiatras há uns milénios atrás?...
Um amigo meu diz que o ser humano é delirante, acredita em coisas tão extraordinárias como deuses elefantes; filhos gerados sem sexo; vinho que é sangue e pão que é carne. Mas estes «delírios» partilhados e transmitidos culturalmente têm várias funções que até podem ser positivas. Ou negativas. O facto é que existem. Tenha Moisés «metido» coisas parecidas com LSD ou não. Dá que pensar...

Publicada porVictor Silva à(s) 17:08  

6 comentários:

Anónimo disse... 19 de março de 2008 às 12:47  

Bom dia dr. Victor Silva,

é para lhe dizer que discordo de várias das suas opiniões neste artigo.
Católico renitente? Ser católico é acreditar. Se você tem dúvidas, o que é saudável, por que não tenta esclarecê-las antes de escrever um artigo destes? Já agora, lá por que a direcção ou administracção da RTP numa certa época censurou o programa do Herman escusa-se de generalizar. Acho que o Ocidente, no geral é bastante tolerante em relação às religiões, assim como o resto do mundo. Agora há uma minoria, cheia de fanatismo, e que a comunicação social destaca, que fazem muitos estragos. Esses sim é que se ofendem ou querem se ofender com provocações. Quando se acredita, como é o meu caso, felizmente, a tranqulidade reina.

Cumprimentos,

Tiago Jorge

Victor Silva disse... 19 de março de 2008 às 18:40  

Caro Tiago,
Obrigado pelo seu comentário. Contudo parece que não me consegui explicar bem: a questão não é tolerância em relação às religiões, é a "tolerância" (ou falta dela) das religiões em relação a quem levanta questões incomodas.
Cumprimentos

Anónimo disse... 26 de março de 2008 às 01:48  

analisar uma situação como a que foi vivida por moisés, requer algo mais do que uma licenciatura em psicologia... requer discernimento espiritual e uma relação com Deus baseada na fé, que é algo que, aparentemente, o senhor não tem.

rodrigo palma

Victor Silva disse... 26 de março de 2008 às 18:56  

Caro Rodrigo,
Permita-me discordar do seu comentário. Moisés faz parte da nossa cultura e até a Biblia é passível de ser analisada sob prismas diferentes do da Fé (e mesmo assim, existem várias visões consoante os grupos religiosos dentro do Cristianismo). Volto a insistir neste ponto.
Quanto ao argumento ad hominem - "atacar" quem argumenta e não o argumento - não acrescenta grande coisa a um debate de ideias.
Cumprimentos

Anónimo disse... 27 de março de 2008 às 15:37  

a minha intenção não foi "atacar" quem argumenta.

Mas a forma como comentou a experiência de moisés, revela claramente falta de discernimento espiritual.

Quando as pessoas se afastam de Deus é normal que não O consigam ver e compreender claramente. A nossa percepção de Deus provem da relação que temos com Ele. Diferentes pessoas têm diferentes precepções de Deus, mas isso não faz com que Deus deixe de ser aquilo que Ele é.

rodrigo palma

Victor Silva disse... 27 de março de 2008 às 20:53  

Pois. Diferentes pessoas têm percepções diferentes de deus. E essas percepções são muitas vezes determinadas culturalmente. Seja a pessoa o Rodrigo, o Victor ou o Moisés. E como Moisés, outras pessoas - vivas e mortas - afirmam ter tido experiências com Deus. Sem uma análise racional, ceptica se quiser, com explicações alternativas, não se sabe quem fala realmente com Deus (a bem dizer, nunca se saberá, a menos que Deus decida dizê-lo). Repare na profusão de pessoas que fazem estas afirmações...Umas contribuem para a criação de religiões, outras escrevem livros e dão cursos. Outros levam à perda estupida de vidas - so para citar um destes, o Jim Jones.
Quanto a mim, o discipulo Tiago é um bom exemplo a seguir...
Caro Rodrigo, por colocar estas questões e realizar reflexões, se calhar mostro ter mais discernimento espiritual do que acreditar cegamente no que me foi inculcado culturalmente.
Cumprimentos

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