Crianças Índigo
sexta-feira, 28 de março de 2008
A criança tem “excesso de energia”? “Não aceita a autoridade”? “Tem dificuldade em concentrar-se”?”Tem mudanças repentinas de humor”?
Um psicólogo tradicional pensaria “possibilidade de ter uma perturbação de hiperactividade”. Mas não é disso que se trata…São crianças índigo e têm até auras azuladas (índigo)…Vieram para nos salvar e promover a nossa evolução…Não precisam de ser educadas, apenas amadas. Mais uma crença perigosa.
O termo “Criança Índigo” foi criado por Nancy Ann Tappe, uma psíquica (supostamente tem poderes paranormais) que classificou as pessoas segundo a sua aura, num livro de 1982. Segundo a Nancy, o fenómeno índigo é reconhecido como uma das mais excitantes mudanças na natureza humana que já foram registadas. As crianças índigo são fáceis de reconhecer pelos seus olhos grandes e claros. São extremamente inteligentes e precoces, com uma memória espantosa e um forte desejo de viver instintivamente. Estas “crianças do próximo milénio são almas sensíveis com uma consciência evoluída que vieram cá para ajudar a mudar as vibrações das nossas vidas e criar uma terra, um globo e uma espécie. Elas são a nossa ponte para o futuro”(1).
Os defensores da existência destas crianças dizem que muitas crianças diagnosticas com a desordem de défice de atenção são afinal índigo e que representam uma nova evolução na espécie humana e que, portanto, não precisam de medicação, mas sim de treino especial e atenção (nada contra esta última afirmação…as crianças com hiperactividade necessitam realmente de atenção especial).
As crianças índigo são reconhecidas pela sua aura e por outros traços. O “Índigo Clildren Website”(2) aponta:
1- Vêm ao mundo com um sentimento de realeza (e comportam-se como tal)
2- Têm um sentimento de “merecerem estar cá” e ficam surpreendidos quando os outros não partilham essa ideia
3- Têm dificuldade com a autoridade absoluta (autoridade sem explicação ou escolha)
4- Simplesmente não fazem certas coisas; por exemplo, esperar numa fila é difícil para elas
5- Parecem antisociais a menos que estejam com os seus iguais. Podem virar-se para dentro de si mesmas, sentindo que ninguém as compreende. A escola é muitas vezes difícil para elas do ponto de vista social
6- Não respondem à disciplina baseada na culpa (“espera até o teu pai chegar a casa e descobrir o que fizeste”)
7- Não são tímidas em fazer saber o que precisam
Muitos destes “traços” são perfeitamente normais e habituais numa criança, mesmo as não índigos:
1-Muitas crianças acham-se reis ou rainhas ou princesas e comportam-se como tal (geralmente porque os pais assim as fazem sentir-se e permitem;
2- As crianças, até por factores desenvolvimentais, julgam que o mundo gira à volta delas;
3- Qual a criança (ou adulto) que não tem dificuldades com autoridades absolutas sem explicação?;
4- Uma criança a esperar numa fila é sempre uma coisa complicada, acho eu;
5- Quando as crianças não estão com os amigos, não é de espantar que fiquem mais retraídas, o convívio na escola não é, pelo menos ao inicio, fácil para todos e outros factores podem originar este comportamento;
6- Quanto à culpa, dependendo da idade, convém até que exista, até porque é um sentimento normal e estruturante do que se deve ou não fazer. Uma criança que não responde à ameaça da chegada do pai provavelmente não reconhece a sua autoridade;
7- Qualquer criança geralmente sabe dizer o que quer…nem que seja fazendo birras.
Como se vê, as próprias características de uma criança índigo são suficientemente amplas para incluir qualquer criança. Mas ainda falta um critério importante; a aura.
Auras
As auras são supostamente emanações de objectos, como se fossem energia. Dizem os paranormais que as cores das auras indicam personalidade das pessoas ou problemas que a pessoa tenha. Naturalmente, nada disto foi alguma vez comprovado, antes pelo contrário. Existem pessoas que dizem ser capazes de ver auras. Isto explica-se de várias formas, desde problemas em termos de percepção, enxaquecas, problemas no sistema visual ou dano neurológico. Qualquer um, mesmo sem ter estes problemas ou capacidades paranormais, pode ver auras: Basta olhar para um objecto ou pessoa, contra uma superfície clara, numa sala escura. O fenómeno deve-se a fatiga na retina e a outros factores ligados à percepção. Não a coisas do outro mundo. Uma suposta forma de registar auras é a chamada fotografia Kirlian. A fotografia é feita aplicando um campo eléctrico a um objecto numa placa fotográfica. Contudo, também isto é facilmente explicável: o que é registado é fruto da electricidade, pressão, humidade e temperatura. “As coisas vivas são…húmidas. Quando a electricidade entra no objecto vivo, produz uma área de gás ionizado à volta do objecto fotografado, assumindo que há humidade no objecto. Esta humidade é transferida para superfície do filme fotográfico e causa uma alteração no padrão da carga eléctrica no filme. Se a fotografia for tirada no vácuo, onde não há gás ionizado, não parece nenhuma imagem Kirlian”(3) ou seja, se a aura fosse uma energia paranormal, manter-se-ia mesmo no vácuo…
O Problema com as Crianças Índigo
Como vimos, as supostas características de crianças índigo são também as de crianças não índigo. Por outro lado, a ênfase dos defensores deste fenómeno tem a ver com as características de dificuldade de estar quieto, desafio à autoridade, serem crianças muito inquisidores, não conseguirem estar a fazer a mesma tarefa muito tempo. Estas características podem indiciar uma perturbação de hiperactividade. Nunca é fácil para um pai saber que o seu filho tem problemas a este nível, daí ser mais fácil acreditar que este afinal é “especial” e que tem um “tarefa” a desempenhar no mundo. O problema é que ao assumir que tem um filho índigo pode estar a prejudicá-lo, negando-lhe apoio especializado e científico baseado numa crença sem qualquer tipo de validade. Ao não conseguir aceitar a realidade pode estar a prejudicar ainda mais o filho. Para além disso, ao que parece as supostas crianças índigo não devem ser disciplinadas…Ora isto também é perigoso. A educação faz-se de amor, mas também de regras e de respeito pela autoridade. Um filho que não tem culpa pelo que fez, que tanto se lhe faz se o pai vai ralhar com ele ou não, tem dificuldade em funcionar em sociedade, que, quer queiramos ou não, tem regras e hierarquias.
Pode parecer mais interessante pensar que uma pessoa que ouve Deus a falar com ele é um profeta e não uma pessoa com problemas psiquiátricos. Pode parecer mais reconfortante pensar que um filho é uma criança índigo e não uma criança com um problema de hiperactividade. A questão é que o podemos prejudicar ou ajudar, consoante acreditamos no que nos diz o defensor dos índigos ou o médico…
Referências:
(1) http://skepdic.com/indigo.html
(2) http://www.indigochild.com
(3) http://skepdic.com/auras.html
Publicada porVictor Silva à(s) 16:04
Etiquetas: Artigos Portal da Criança, cepticismo
Parabéns pelo Post, realmente esclarece muito bem o fenomeno, espero ajudar alguém que neste momento está a precisar com o seu testeminho.
Parabéns! Até que enfim encontro alguém lúcido no meio de toda essa insensatez coletiva.
É Victor de comentário vitorioso!!! Penso que talvez a adoção desta terminologia para o trato com criançãs tdah, seja tão somente semântica, e que traz no bojo uma forma menos dramática para os pais envolvidos. Se a visõa clinica/cientifica não for negligenciada estas crianção podem levar o nome que quiserem ... já há inclusive quem as chame de mutantes psicônicos... De qualquer forma agradeço aos deuses pela sua existência Dr Victor!!!!! Obrigada.
nossa eu fiquei bastante assustado porque as caracteristiacas de uma criança indigo sao muito parecidas com a minha,mas eu fiquei em duvida pq eu tenho olhos escuros e grandes
e nao sei se minha aura é azulada eu tenho 12 anos e me chamo christian
Olá Victor, obrigada pelo seu comentário. Tenho um menino de três anos e meio que possui muitas dessas características. Não acho que seja hiperactivo, mas como ele começou a ter umas reacções estranhas, pertubações do sono e a referir que via determinadas coisas fiquei preocupada. Levei-o a uma psicóloga, que poucos minutos depois de falar com ele, deu-me os parabéns porque o meu filho, segundo ela, é uma criança índigo. Disse inclusivé que era sobredotado, só de falar com ele, não lhe fez qualquer tipo de teste. Sei que o meu filho é uma criança especial, mas não o são todos? Sou uma pessoa de mente aberta, mas confesso que fiquei confusa.
Li atentamente a sua explicação,fiquei mais tranquila ao constatar dum tecnico a nivél psicológico aquilo que eu penso sobre este tema. Tenho constatado também que, cada vez ouço mais sobre crianças indigo e super activas. Sempre me perguntei porquê esta nova subida de taxas de crianças assim. Será que são mesmo especiais, ou será que a maneira de educar as crianças e a desresponsabilização dos pais que as faz ter estas caracteristicas de crianças indigo? Não é nada fácil educar um filho ,nada fácil mantermos fiéis á nossa posiçao de dizer "não" quando é necessario
Dizer "sim" depois duma birra da criança não estamos a amá-la mais por isso
No post fala de muita coisa que não corresponde á realidade.
Penso que deveria ser actualizado, o indigo têm que ser orientados durante a sua vida (pelo bem) caso contrário vão assumir que lutar o mal com violência é o correcto... aqui diz que têm uma grande vontade de viver isto é muito discutivel (os indigos sentem-se só neste mundo, pois têm ideias diferentes o que leva ao isolamento e por vezes pensam no suicido por não se acharem neste mundo), meditação e yoga faz muito bem aos indigos assim acalmam e conseguem controlar melhor as suas energias.
Isto é algo muito no geral, porque se aprofundar-se mais o assunto, comecaria a falar da tendencia da droga, violência etc.