Jogos Olimpicos: a Vergonha
terça-feira, 8 de abril de 2008
Diz o senso comum que os chineses são culturalmente muito ciosos da vergonha. Que perder a face é coisa que não pode acontecer. Pois esta aventura dos Jogos Olímpicos não só atraiu a vergonha sobre um país (ou melhor, sobre os seus dirigentes) como sobre muitos países por via dos seus comités olímpicos.
Na antiga Grécia os Jogos Olímpicos realizavam-se em honra de uma divindade. Competiam os melhores atletas das várias cidades. Vigorava até um cessar-fogo durante os Jogos. Era um momento de encontro entre várias cidades estado.
Hoje, os jogos ainda vão tendo, apesar de tudo, esse factor de encontro entre nações. Contudo, já não há cessar-fogo entre nações beligerantes durante a competição. Os deste ano, mais que Jogos Olímpicos, estão a ser um Olímpico desastre de relações públicas para a China.
Percebe-se a organização dos Jogos pela China e a razão pela qual os seus dirigentes quiseram realizá-los. O gigante oriental também precisa de mostrar a sua face moderna, aberta, tolerante…tolerante, escrevi eu? Mas onde é que tinha a cabeça?!
A possibilidade de um estado ditatorial, onde as liberdades mínimas das pessoas não são garantidas, que subjuga pelo poderio militar nações adjacentes há décadas, realizar a festa do convívio da tolerância é uma coisa que só consigo perceber à luz da famosa “Real Politik”. Pois então, deixe-se a real politik no seu sitio e não se misture motivações que todos conhecem com um suposto gosto pelo desporto e pela competição saudável. A China nunca deveria ter sido nomeada organizadora dos Jogos. É a mesma coisa que um skinhead receber em sua casa, todo sorrisos e abraços um grupo de auto-ajuda de homossexuais negros emigrantes. É, na minha opinião, um contra-senso.
Pois, é chato para ao atletas treinarem anos e anos para uns Jogos e depois, por umj boicote politico, não poderem competir, como já ouvi alguém dizer por aí. Pois eu acho muito mais chato imaginar o tibetano que acabou de apanhar pancada ver os seus opressores a receberem aplausos do mundo porque organizaram umas competições desportivas e todos se deram bem.
Nem de propósito, os Jogos Olímpicos eram, orioginalmente, uma celebração respeituosa aos mortos. Ao que parece, este ano, pode ser que seja outra vez a mesma coisa…Nem de propósito, a chama olímpica, até já se apagou, por “problemas técnicos”. Que curioso…será que foram à Grécia acendê-la outra vez, ou há uma tocha suplente? Senão não faz grande sentido esta coisa da tocha ser acesa num sitio e andar a passear pelo mundo…
Não sou a favor que se façam boicotes. Não sou a favor que se retire a organização dos Jogos à China (só se fosse possível organizá-los noutro sítio, em tempo útil). Sou a favor que os atletas demonstrem, para todo o mundo ver e a China também, que são seres humanos e estão contra a opressão dos tibetanos. Que o mostrem, nem que seja de forma simbólica, na casa dos opressores. Os estados participantes e os seus dirigentes se calhar não podem ostilizar o PC Chinês por razões de “real politik”. Mas os desportistas, os que treinaram anos para competir, podem mostrar a sua solidariedade a quem não tem possibilidade de competir, ser livre ou viver em Paz. Que sejam eles a mostrar a real razão dos Jogos Olímpicos, a manter a chama olímpica, dizendo: Free Tibet.
Publicada porVictor Silva à(s) 20:03
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