Rui Rio e o arrumador

O Presidente da Câmara do Porto está a ser processado por um arrumador, na sua qualidade de director da revista da Câmara. Ao que parece o dito arrumador foi fotografado sem autorização e aparece numa peça da revista em que se fala de toxicodependentes.


Num tempo em que o (a)parecer é mais importante que o ser, não deixa de ser curioso este caso. Um arrumador, que diz que não é toxicodependente, pôs Rui Rio em Tribunal, porque a revista da Câmara terá usado abusivamente a sua imagem, ainda por cima sem autorização.
Embora esteja curioso para ver o que decidirá o Tribunal sobre este caso, considero-o desde já um bom exemplo de cidadania. Provavelmente, o arrumador não estará tão preocupado com a sua imagem como estará com a possibilidade de receber uns euros de indemnização. Afinal, arrumar carros não é das actividades mais bem-vistas pela sociedade e este cidadão realiza-a à vista de todos numa artéria da cidade do Porto por onde passam muitas pessoas, ainda por cima em local público (se fosse num estacionamento privado, a coisa seria provavelmente diferente). Infelizmente, a própria actividade está associada a toxicodependentes, pelo que este psicólogo assume preconceituosamente que os arrumadores, à priori, são também consumidores de drogas. Para já, é uma boa lição para quem, como eu, faz estas interpretações abusivas: afinal nem todos os arrumadores são toxicodependentes.
O arrumador também afirma que já foi apoiado pelo célebre Programa Porto Feliz. Só isto permite mais duas questões: ao que parece, neste caso, o programa não funcionou, no sentido em que a pessoa em questão continua a arrumar carros. Por outro lado, e aqui talvez a minha ignorância influa bastante, sempre pensei que o programa fosse para toxicodependentes. Então o que fazia esta pessoa naquele programa? Qualquer coisa não bate certo…Talvez a sua admissão tivesse a ver com uma situação de necessidade social. Mas não deixa de ser paradoxal, por parte do sujeito, beneficiar de um programa desenhado para toxicodependentes e depois queixar-se de que foi chamado toxicodependente. Parece que a conotação é positiva ou negativa dependendo dos benefícios que se tira dela…
Outra questão se levanta e tem a ver com a própria actividade de arrumador. Já não me lembro se a coisa foi avante, mas acho que houve uma tentativa de legalizar esta actividade, com cartão e tudo (honestamente não sei se no Porto se noutra cidade). Como estará isso? É legal, ilegal ou legal por omissão? Na minha opinião, sempre é melhorar arrumar carros do que realizar outras actividades mais prejudiciais…desde que não me obriguem a dar moeda se não me apetecer.
Contudo, honra seja feita ao arrumador: foi conotado num texto como toxicodependente, não o é e queixou-se. Tiraram-lhe uma fotografia e publicaram-na sem autorização. Queixou-se nos tribunais. Afinal, tem direito à sua imagem. Seja qual seja a sua real motivação, actuou de uma forma correcta, queixando-se no sitio correcto e chamou a atenção a muitos outros cidadãos (como eu) para preconceitos que nem nos apercebemos ter. Também esteve bem Rui Rio. Respondeu, assume as suas responsabilidades enquanto director da revista e não utilizou esta situação caricata e, julgo eu, inédita, para fazer política (pelo menos que me tenha apercebido).
Este caso lembra-nos a todos que o mais humilde dos cidadãos tem direito à sua imagem. Lembra-nos a todos que temos direitos e que os devemos defender. Não esquecendo, claro está, os deveres…

Publicada porVictor Silva à(s) 16:52  

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