Conhecer o caminho da violência à insegurança
sábado, 19 de janeiro de 2008
Noticia do "O Primeiro de Janeiro" de 19 de Janeiro
Debate promovido pelo CDS/PP
Conhecer o caminho da violência à insegurança“
É muito fácil apercebermo-nos que um rio é violento. Mas, o que nós não nos lembramos é que, muitas vezes, as margens que comprimem esse rio é que fazem com que ele seja violento”. Foi com um empréstimo das palavras de Bertold Brecht que Maria Guimarães dos Santos deu inicio à sua intervenção, no debate «(Des)Caminhos na cidade – Fenómenos Sociais na Base da Insegurança Urbana».O evento, realizado no Café Majestic e organizado pela Concelhia do CDS/PP Porto, visava tentar analisar o sentimento de insegurança que ainda povoa o quotidiano portuense, no âmbito dos graves casos de violência que o mancharam nos últimos meses.A actual presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Porto continuou o raciocínio, ombreado por 32 anos de trabalho de campo em meios difíceis (nove no Cerco e 23 nos bairros da Pasteleira e Pinheiro Torres): “Ao longo de todos estes anos, constatamos que a problemática do planeamento urbanístico ainda subsiste. Continuamos a incorrer no erro de concentrar os problemas nos mesmos espaços habitacionais”, afirmou.Para explicar o efeito, cita um excerto de um artigo do Jornal de Noticias (09-04-2001), que diz: “A violência nas cidades não vai acabar. Pelo contrário, a tendência é para aumentar, sobretudo, entre os jovens enquanto se juntar grande número de famílias com condições sociais idênticas em habitats segregados, em vez de as dispersar e misturar com outros grupos sociais”.Segundo Maria Guimarães dos Santos essa dispersão social é fundamental e ultrapassa em importância o mero melhoramento material dos conjuntos habitacionais: “A Pasteleira Nova é um bairro recente, tem casas novas, com boas condições. No entanto, detém o recorde da cidade em sinalizações de situações de risco à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. A concentração dos problemas é nociva. Faz-se sentir”.
Compreender a génese da violência
A segunda intervenção pertenceu a Victor Silva, psicólogo do IDT (Instituto Droga e Toxicodependência). Como se forma o fenómeno dos gangues? O que motiva a criação de vídeos com ode à violência? Foram questões que o psicólogo começou por fazer pairar sobre uma audiência que lotou todas as mesas do clássico café portuense.De seguida soltou as respostas, explicando que sem figuras de referência, de vinculação, sem apoio ou suporte familiar, os jovens vão privilegiar a partilha de valores dentro de grupos. Neste caso, grupos que usam a criminalidade como uma força de resistência, de marcar a diferença em relação a uma sociedade que, à priori, os rejeita. “No fundo todos nós temos uma cultura de grupo. Desde o guna de boné que quer sapatilhas de marca ao executivo que usa um Rolex, ambos são motivados por valores impostos na nossa sociedade capitalista, que é o desejo de aceder a bens materiais”. Colocando a hipótese da liberalização das drogas como meio de acabar com o financiamento criminal, cuja grande fatia advém do tráfico – uma medida criticada e rejeitada pela maioria da plateia embora, nitidamente, por razões mais emocionais e morais do que propriamente de índole racional – o psicólogo alertou para os perigos do que classifica como “terror interventivo”. Como exemplo aponta um caso verificado na Grã-Bretanha, em finais dos anos 80, quando despoletou o extasy. Na altura gerou-se o pânico geral, os tablóides preconizaram a desgraça da juventude. Como resposta, os políticos decidiram fazer uma caça sensacionalista às raves, às festas privadas. “Resultado: quem não sabia o que era o extasy, o que era uma rave, ficou a conhecer e resolveu experimentar”, atesta. Defende ser fundamental responder aos fenómenos com conhecimento de causa, de forma a não gerar consequências contraproducentes. Nesse sentido, estipula três passos que considera fundamentais: Antes de julgar, é preciso conhecer. É preciso conhecer antes de intervir. É preciso intervir “com” as pessoas e não “nas” pessoas. “Para não sermos nós as margens que se tornam cada vez mais contraídas e deixam o rio cada vez mais violento”.
Victor Melo
Alguns amigos e conhecidos ficaram espantados pela minha participação numa iniciativa deste partido...Devo dizer que não tenho qualquer ligação a este partido e tenho participado sempre que convidado, em iniciativas de outras forças políticas - antes do PP, numa conferência da JS, por exemplo. Para além disso, a participação é ao nível puramente individual, reflecte as minhas opiniões pessoais e não necessariamente a dos meus empregadores.
Publicada porVictor Silva à(s) 16:19