(Des)Educadores

Professores agredidos por familiares de alunos. Educadores a maltratarem crianças num colégio espanhol. Duas situações diferentes, mas exemplos gritantes e preocupantes de como os educadores se tornam Deseducadores.


Nada pode justificar a situação denunciada em Espanha. Educadores, presumimos que com formação para tal, a obrigarem crianças a comerem o próprio vómito, a fecharem-nas em quartos escuros. A meu ver não se trata de maus-tratos, trata-se de tortura, que deve ser punida exemplarmente. Acresce às próprias situações o facto de que quem as perpetrou dever ter, mais que ninguém, a obrigação profissional, para além da moral e humana de cuidar adequadamente de quem está aos seus cuidados.
Leio que a média de violência em relação aos professores é de dois casos por dia. Preocupante. Quando muitos destes actos são realizados pelos familiares dos alunos, a situação ainda é mais preocupante. De uma forma retorcida, os pais parecem querer proteger os filhos ou punir pessoas que, até prova em contrário, só tem em vista o bem estar dos mesmos.
Na primeira situação, e fazendo assumidamente especulação, provavelmente os actos destes (des)educadores terão a ver ou com dificuldades de lidar com o comportamento das crianças, falta de competências pessoais e técnicas para o desempenho da profissão. Fico assustado ao pensar que existem pessoas com estas características a cuidar de crianças. Aliás, é um facto que os pedófilos muitas vezes escolhem profissões que lhes permitam um contacto regular com crianças. Dadas estas situações, e no que diz respeito a actividades profissionais em que o cuidar dos outros é essencial, parece-me indiscutível a necessidade de um crivo muito elevado na contratação de pessoal. Se não for na contratação (também não podemos ver em cada educador ou professor um potencial abusador), pelo menos terá de haver uma supervisão ou monitorização do desempenho profissional e comportamental destes profissionais. É triste (mas ainda bem que assim foi) que a situação só é denunciada pela comunicação social, com recurso a câmaras escondidas. O que me leva a pensar: se uma televisão decidiu fazer esta investigação, algum fumo deveria existir para lá irem ver se existia fogo. Como é que as autoridades competentes, os pais, os responsáveis da escola não desconfiaram disto?
Na segunda situação, e colocando-me nos sapatos da mãe ou pai agressor de professores, até que consigo vislumbrar uma explicação, também com recurso à mais pura especulação: será que o sentimento (consciente ou inconsciente) destes familiares de não estarem a cuidar adequadamente das suas crianças os leva, como acto compensatório, ir punir quem lhes parece estar a maltratar os filhos, ao lhes exigirem, por exemplo, que façam os trabalhos de casa? Talvez. Mas isso não é desculpa. Os professores existem para ensinar. Acabam também por serem os verdadeiros educadores de várias crianças que andam por aí sozinhas e sem apoio. Muitas vezes é um trabalho inglório, certamente exigente e, cada vez mais, um trabalho de risco.
Naturalmente existem maus professores. Mas nessas situações existem mecanismos que se podem accionar. Não é ir dar um estalo a uma professora que resolve alguma coisa, antes pelo contrário. Os professores devem ter o direito de efectuar o seu trabalho com condições de segurança. Quem se sente ameaçado nunca poderá manter a disciplina numa sala de aulas. Isto pode ser mesmo uma forma de terrorismo e de coacção.
E no meio de educadores, pais e professores, as crianças e jovens. Os comportamentos deles são reflexo do meio socio-cultural onde se inserem, da existência ou não de educadores, de regras, de acompanhamento, de amor. E serão melhores ou piores consoante estes factores (e outros) sejam adequados ou não. Uma criança hoje abusada ou negligenciada pode ser o abusador, o negligenciador de amanhã. E assim se repete o ciclo. Infelizmente. Até que se tente ir à causa dos problemas. Tentar acompanhar estes pais que também precisam de ajuda. Prestar atenção e também apoiar estes profissionais que se tornam monstros. Punir já não é suficiente.

Publicada porVictor Silva à(s) 20:47  

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