Madeleine McCann e os “Spin Doctors”

“Spin Doctor” é como se fosse um assessor de imprensa, que tenta “virar” ou condicionar a agenda mediática e as notícias que saem ou vão sair. Tentam “vender o peixe”, minimizar danos de uma má notícia, aconselham os seus clientes na sua relação com a imprensa. Os pais de Maddie têm agora ao seu serviço um ex-spin doctor de Gordon Brown, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha. É uma escalada na luta mediática relacionada com este caso…


Uma coisa é certa: o caso Maddie ultrapassou há muito tempo o “mero” desaparecimento de uma criança (se é que há alguma coisa de “mero” num desaparecimento). Um dia mais tarde este caso será estudado nos cursos de comunicação social, jornalismo, relações públicas. Parece-me óbvio que para além da atenção mediática incrível que já define este caso, ou se calhar por causa disso mesmo, este acontecimento tornou-se uma verdadeira batalha mediática. Pelo menos da parte dos pais da criança há uma preocupação óbvia sobre o que se escreve, diz e aparece nos jornais, rádios e estações de televisão. Porquê? Percebo a lógica de manter o caso nas parangonas, numa (hipotética) esperança de que a miúda seja vista nalgum sítio. Na minha opinião, esta visibilidade toda só pode fazer mal. Ora coloquem-se na pele de um eventual raptor: o que faziam se a foto da criança que raptaram andasse em todo o lado há meses intermináveis? Ou não a deixavam sair de vossa casa ou então…acho que nem é preciso escrever a outra opção. Será que isto auxilia um eventual reconhecimento, partindo do princípio que se tratou de um rapto? Tenho muitas muitas dúvidas. Porquê então contratar assessores de imprensa?
Os spin doctors existem há muito tempo. Parece-me, contudo, que se tornaram figuras com visibilidade através de Alaistair Campbell, o spin doctor-mor e eminência parda de Tony Blair. Campbell, um ex-jornalista, juntou-se a Blair ainda antes deste se tornar primeiro-ministro e conduziu não só o seu relacionamento com a imprensa (ao que parece brilhantemente) como (parece-me) se tornou também um conselheiro incontornável, por quem tudo ou quase tudo passava. Definições de políticas, estratégias, gestão de egos e motivações pessoais de gente à volta de Blair (como o agora primeiro-minsitro Gordon Brown), etc. Pelo menos é o que interpreto do livro The Blair Years: The Alastair Campbell Diaries, um calhamaço com quase 800 páginas que é o responsável por andar a dormir pouco nos últimos tempos, tal a vontade de ler “só mais uma página” antes de dormir.
Durante a campanha eleitoral que levou Blair a primeiro-ministro, os Conservadores lembraram-se de mandar uma galinha andar atrás do que seria o futuro primeiro-ministro. A ideia era simples: chamar medroso a Blair, relativamente à autonomia da Escócia. O que fazer para que esta estratégia não funcionasse? Se Blair respondesse à provocação, os objectivos de John Major estavam atingidos. A estratégia adoptada foi simples e eficaz: Entrar na brincadeira. Numa acção de campanha, a galinha foi convidada a jantar com Campbell. Quando isso foi recusado, a equipa de Blair fez saber que a galinha tinha sido raptada pelos Conservadores, que não a deixavam fazer o que queria e que ela afinal queria passar para o lado dos trabalhista. Engraçado, não? A notícia que podia ser “Blair é um medroso” passou a ser um “fait-divers” engraçado e virado contra o autor: é que haviam deputados de Major que tinham passado para o lado de Blair. Como a galinha queria fazer. Spin doctorismo no seu melhor…
Especulando acerca do caso de Maddie, agora que os pais contrataram Clareance Mitchell ex-spin doctor de Gordon Brown (que também trabalhou com Blair, logo aprendeu com o mestre Campbell), e as recentes notícias de avistamentos em Marrocos, e-mails anónimo enviados para o Príncipe Carlos (porquê o Príncipe Carlos, porque não a polícia? Para dar mais cedibilidade? Para mais facilmente aparecer nas notícias? Porque foi mesmo assim?), ponho-me a pensar: Será que o alvo da galinha desta história (versão e-mail e avistamento) não será a polícia portuguesa?A regra do spin doctorismo é virar as notícias a favor de quem nos contrata. Não deixam de ser interessantes estas notícias de avistamentos e afins, agora que a atenção mediática está na suspeição sobre o casal McCann… Ainda estará? Ou está a virar outra vez para a possibilidade da criança andar por aí, à espera de ser vista? Curioso…


Publicada porVictor Silva à(s) 20:50  

1 comentários:

Anónimo disse... 6 de novembro de 2007 às 19:09  

So tenho a dizer q concordo com a sua analise sobre este caso. Axo q o silencio teria contribuido mais para a menina ter sido encontrada. Através do silencio e da confiança no trabalho da policia teriam ajudado mais do q todo este meditismo.

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