Quando o Amor acaba

É uma daquelas evidências da vida: Por vezes deixamos de gostar da nossa parceira ou vice-versa. Desde o drama adolescente da desilusão amorosa à separação e divórcio adulto, é um facto que o amor também pode morrer. Ou ser morto.

Somos seres relacionais e até mesmo do ponto de vista evolutivo, a própria perpetuação da espécie leva-nos a ter relacionamentos preferenciais com outras pessoas. Afinal, a cria humana é tão frágil que necessita de quem tome conte dela. Precisa de progenitores que estejam juntos, de preferência que gostem de estar juntos.
Naturalmente que não podemos esquecer os factores sociais, até mesmo religiosos que nos impelem para casais exclusivos, para a monogamia. E por vezes, o imperativo biológico de fazer passar o máximo possível dos nossos genes à geração seguinte entra em contradição com a monogamia. Mas não pretendo enveredar por uma análise evolucionista do “fenómeno” da extra-conjugalidade.
Ao longo do nosso desenvolvimento, vamos criando relações de vinculação com outras pessoas. Naturalmente, as primeiras relações são construídas com os nossos pais, ou com quem toma conta de nós. Contudo, por vezes, criamos relações de vinculação problemática. Se uma criança tem uma relação de segurança com os progenitores, irá criar uma relação de vinculação segura. Se, por outro lado, a coisa não correr tão bem, se os pais forem ausentes afectivamente, se forem contraditórios nos afectos (por vezes sendo próximos, por vezes sendo ausentes), a criança pode desenvolver outros estilos de vinculação.
Estes estilos de vinculação podem perpetuar-se ao longo do tempo. Ao vincularmos com outras pessoas, podemos replicar o que aprendemos antes. Na minha óptica, a vinculação é dinâmica, ou seja, a ideia de insegurança (quase sempre acompanhada por sentimentos de não ser desejável pelo outro) pode ser desconfirmada no contexto de uma relação segura. O inverso também pode acontecer.
Somos seres que aprendem e não esquecem algumas coisas. Ora façam lá um exercício: Ainda se lembram da primeira namorada a sério? Daquela de quem gostavam e suspiravam pelos cantos? Quando encontram uma pessoa parecida que coisas sentem? Ainda conseguem sentir o perfume da primeira namorada?
Isto para dizer que os nossos estilos de vinculação e a nossa história de vida influenciam o modo como nos vemos a nós próprios e aos outros. Marcam-nos. Fazem-nos o que somos, sentimos e pensamos.
Que tem isto a ver com o amor? Bem o amor é uma relação de vinculação muito forte. E às vezes também nos desvinculamos ou somos “desvinculados”.
Vários factores influenciam o fim de uma relação, das coisas mais pequenas como comportamentos insignificantes que tomam proporções desmesuradas até questões essenciais – diferenças no modo como se entende o mundo ou conhecer alguém com quem temos mais afinidade. E atenção que as pessoas mudam ao longo do tempo. Basta ver como muitos marxistas são hoje social-democratas. Num jogo interminável de relações de amizade e outras, vamos construindo e desconstruindo a nós próprios. Às vezes de forma positiva e adaptativa, às vezes de forma desadaptativa.
Tendo as relações amorosas o poder que têm, não é de espantar que, quando o amor morre ou é morto, possamos entrar em crise. Criamos relações de quase dependência (à partida uma relação menos boa) com alguém e esse alguém abandona-nos. Se tivermos estrutura psicológica adaptativa, depois da fase do luto – sim, as relações também têm luto – estaremos disponíveis para novas relações de vinculação. Se isso não acontecer – se, por exemplo, um estilo de vinculação mais problemática nos levar a pensar e a sentir que ninguém nunca mais nos quererá – temos um problema. E aí convém procurar ajuda profissional. Por vezes o sofrimento é tão atroz que essa ajuda é essencial. Para que a pessoa continue a poder relacionar-se adaptativamente com os outros.
As relações começam e por vezes acabam. Faz parte da vida. Mas por terem acabado, isso não implica necessariamente que somos defeituosos. Apenas não acertamos na relação, que implica não uma, mas duas pessoas. E uma delas nós não controlamos…

Publicada porVictor Silva à(s) 13:45  

5 comentários:

Anónimo disse... 5 de novembro de 2007 às 11:14  

Estou a passar por um fim de namoro q durou 10 anos onde tudo era tudo perfeito: havia respeito, afecto, amizade, paixão, compreensão, cumplicidade, mesmos gostos e sonhos, até q de um momento p outro o meu namorado envolve-se c uma miuda da universidade durante a Praxe. No dia seguinte assumiu o q tinha feito e estava mto arrependido e revoltado com ele mesmo, no entanto,Diz q não sabe se ainda me ama. Eu não sei o q pensar ou fazer. Não estou a conseguir lidar com isto... É mto doloroso. Por favor de me 1 conselho.Obrigada

Anónimo disse... 15 de janeiro de 2009 às 19:04  

Meu Deus...também namorei durante 10 anos e aconteceu-me exactamente o mesmo!

Anónimo disse... 13 de abril de 2011 às 23:55  

Sempre que sentimos que o amor acaba ouvimos que temos que "rever" nossos sentimentos, como se já não o tívessemos feito milhões de vezes.

Por que todos só prestam atenção no sofrimento de quem é deixado e nunca lembram de que quem quer deixar também sofre?

Sofrer por amor não é mais dolorido do que sofrer a ausência dele em nossos corações...

Anónimo disse... 1 de junho de 2011 às 21:38  

Eu estou numa situação difícil, o amor está a morrer, sinto que da outra parte deixou de existir, aquilo que se chama paixão. Acabei com um casamento de 20 anos, por este amor e estou a chegar à conclusão nestes últimos anos, que o amor que sempre sonhei afinal, não passava de uma irrealidade. Sinto magoa e culpa por tudo o que provoquei a terceiros, para viver um momento único. mas aprendi uma coisa amar com dedicação, com disponibilidade,é uma coisa impossível. A paixão é temporária

Clara disse... 4 de julho de 2011 às 14:09  

Quando o amor acaba? o amor nunca acaba. Desde que somos gente e nos dedicarmos a nós próprios sem nos maltratarmos, aí existe amor, o amor acaba para aquelas pessoas que não Vêm que para além de haver um rompimento, uma separação, ou mesmo ausência parcial ou total de alguem que amamos muito, existe uma pessoa desconhecida dentro de nós.Quando não existe mais confiança entre duas pessoas, o melhor é o esclarecimento, falar acerca, abrir-se e buscar do seu interior o que realmente se quer. Uma ilusão? cansou? porquê? o diálogo é o primordial para nossas vidas. Vejamos ao recém-nascimento, quando vem ao mundo, a primeira identificação é a comunicação ou melhor o choro. Chora para comunicar que aqui estou e logo existo. Tudo acaba sempre um dia. Mas para não sofrermos melhor é buscar primeiro o nosso interior e apostar em si. Se aqui estou, então existo e para vencer tenho que lutar contra primeiramente comigo mesmo, desvaziar toda tristeza que o pensamento acarreta... medite, fale com o você mesmo e se necessário busque apoio. Escreve bastante e cante bastante, leia bons livros e viva acima de tudo o suficiente para que a sua mente lembre do dia de ontem...

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